sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Um mundo de doutores

Os portugueses ( e não estão sózinhos nisto) são de desmedidos salamaleques para os doutores. Aqui,ser doutor não é sinónimo duma determinada profissão, é um "posto" social.
E é de tal maneira importante a perceção de ascensão social que o dr. provoca que tornou-se assim importantissimo adquiri-lo.A todo o custo,por vezes.
Ser doutor ( leia-se aqui "licenciado") tem sido motivo "per si" de grande adulação por toda a gente.Não se é ninguém se não se for doutor,pronto!
Esta verdadeira "parolice" tem alimentado nos portugueses a necessidade de ter todos os filhos doutores dê lá por onde der,mesmo contra a vontade e vocação dos ditos.Durante muito tempo isto significou ter um bom emprego garantido e isso era uma ótima justificação.Nos dias de hoje não significa nada do ponto de vista do emprego mas sobejou o tratamento e "reconhecimento" social.
Mas esta febre de "ser doutor" implantou-se tão arreigadamente em nós que quem está numa determinada posição numa empresa ou no Estado não pode ver-se a si próprio como não sendo doutor.Sei lá ,sente-se diminuído, incapacitado, "menos que os outros".Daí ter que rapidamente resolver a situação, se tiver condições para isso ( vide caso M Relvas).A pessoa até pode ser duma inteligência superior (não é o caso do exemplo...) ter um currículo invejável, um percurso profissional de excelência ,ser um inovador reconhecido mas se não for doutor.....!
Precisamos todos de rever esta mentalidade,herdada de quando o ensino superior era altamente elitista e só muito raramente os filhos dos não-doutores chegavam a doutores. A escola superior democratizou-se e massificou-se ( com os benefícios e malefícios que isso encerra) mas o que precisamos é de pessoas qualificados a sério. Precisamos de doutores,claro,de carpinteiros, de engenheiros, de mecânicos, de arquitetos, de pedreiros, de informáticos, de comerciantes , de operários....Precisamos de todos e que todos sejam o melhor possível ( e já agora o mais felizes possível) na profissão que desempenham.
Para isso há que quebrar o "laço" entre "ensino não-superior"e "falhanço". Tem que se valorizar o ensino dito "profissional" ( se calhar começar por lhe arranjar outro nome, ou não é todo o ensino também uma preparação profissional?) mas valorizá-lo não só como "escola" e "curriculo" mas também socialmente ; um ensino que não fique ( como aliás quase todos os cursos superiores dos doutores) fechado sobre os seus "saberes" ,as suas "técnicas", as suas "terminologias" mas aberto a todo o conhecimento e desenvolvimento, técnico,pois claro, mas também científico,social, especulativo...humano enfim.
A mudança que se anunciou (embora sem se conhecer em pormenor) na nossa estrutura de ensino não augura nada de bom: mais uma vez teremos os doutores e os "coitadinhos" que não conseguiram lá chegar. Esta notícia fez-me lembrar uma conversa,do ano passado, com um amigo holandês, professor catedrático e vice-reitor duma universidade em Amsterdão que me falava entusiasmadíssimo no percurso escolar dos dois filhos: um estava a acabar direito e outro tinha acabado carpintaria e já estava a trabalhar numa empresa; ambos adoravam o que estavam a fazer  mas o meu amigo confessava-me uma ligeira preocupação quanto à colocação do futuro advogado...
FC

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Horas Pingadas

O tempo "escorre"!
De que bocados do "tempo escorrido" queremos fazer a nossa vida? Queremos ser rio tempestuoso? Lago sereníssimo? Oceano revolto ? Ou "fio de água entre montanhas?
Escolhamos então!!